O cristão vivo é o consagrado. É nossa
distância do céu que nos torna tão insípidos: é o fim que vivifica todos os
meios, e mais vigoroso será nosso movimento, se observamos esse fim com
freqüência e de forma clara. Como os homens trabalham de forma incansável e se
aventuram sem medo, quando pensam em um prêmio proveitoso! Como o soldado
arrisca sua vida, e o marinheiro enfrenta tormentas e ondas; como eles, cheios
de alegria, circundam a terra e o mar, e nenhuma dificuldade os intimida,
quando pensam em um tesouro incerto e perecível! Quanta vida seria acrescentada
nos esforços do cristão se ele antecipasse com freqüência esse tesouro eterno!
Corremos devagar, e esforçamo-nos de forma indolente, porque nos importamos
muito pouco com o prêmio! Quando o cristão saboreia constantemente o maná
velado, e bebe dos rios do Paraíso de Deus, como esse manjar e néctar divinos
acrescentam vida a ele!
Como, em suas orações, seu espírito
será fervoroso, quando ele considerar que ora por nada menos que o céu! Observe
o homem que passa muito tempo no céu e verá que ele não é como os outros
cristãos. Algo do que ele viu lá em cima aparece em suas responsabilidades e em
sua conversa; ainda mais, pegue esse mesmo homem logo após retornar dessas
visões bem-aventuradas e perceberá facilmente que ele se sobrepuja a si mesmo,
e como seus sermões são divinos. Se ele for um cristão comum, ele terá uma
conversa divina, orações divinas e atitudes divinas! Quando Moisés esteve com
Deus no monte, ele recebeu tanta glória de Deus que seu rosto resplandecia a
ponto de as pessoas não conseguirem olhar para ele.
Amados amigos, se você apenas se
dedicar a isso, essa glória também estará com você. Os homens, quando
conversassem com você, veriam sua face resplandecer e diriam: "Certamente,
ele esteve com Deus". Se você tivesse luz e calor, então por que não
passaria mais tempo debaixo da luz do sol? Se você tivesse mais dessa graça que
flui de Cristo, por que não passaria mais tempo com Cristo para ter ainda mais?
Sua força está no céu, e sua vida também está no céu, e ali você deve buscá-las
todos os dias, se quiser tê-las. Por falta desse recurso do céu, sua alma é
como uma vela apagada, e seu serviço como um sacrifício sem fogo. Para sua
oferta queimar, é preciso que busque carvão nesse altar. Para sua vela brilhar,
é preciso acendê-la nessa chama e alimentá-la todos os dias com o óleo
proveniente dali; fique próximo desse fogo renovador e veja como seus
sentimentos ficarão revigorados e fervorosos. Como os olhos alimentam os
sentimentos sensuais por meio do olhar fixo nos objetos fascinantes, também os
olhos de nossa fé, por meio da meditação, inflamam nossos sentimentos em
relação ao Senhor, ao mirar com freqüência essa mais sublime beleza.
Você pode exercitar suas funções de
muitas outras formas, mas essa é a forma de exercitar suas bênçãos. Todas elas
provêm de Deus, a fonte, e levam a Deus, o fim último, e são exercitadas em
Deus, o objeto principal delas, de forma que Deus é tudo em todos. Elas vêm do
céu, e a natureza delas é divina, e elas o direcionarão para o céu e o levarão
para lá. E como o exercício abre o apetite e dá força e vida ao corpo, o mesmo
também acontece com a alma. Pois como a lua é mais gloriosa e fica mais cheia
quando fica mais diretamente face a face com o sol, também sua alma ficará mais
cheia de dons e de bênçãos quando vir a face de Deus mais de perto. Seu zelo
compartilhará da natureza dessas coisas que o impulsionam: portanto, o zelo que
é inflamado por suas meditações sobre o céu, provavelmente, será um zelo mais
divino, e a vida do espírito que você busca na face de Deus deve resultar em
uma vida mais sincera e consagrada.
Se você apenas pudesse ter o espírito
de Elias, e na carruagem da contemplação pudesse elevar-se nas alturas até que
se aproximasse da vivificação do Espírito, sua alma e seu sacrifício arderiam
gloriosamente, apesar de a carne e o mundo lançar sobre eles a água de toda sua
inimizade antagônica. Pois a fé tem asas, e a meditação é a carruagem; sua
responsabilidade é tornar presente as coisas ausentes. Você não vê que um
pequeno pedaço de vidro, quando direcionado para o sol, condensará de tal forma
seus raios e calor a ponto de queimar aquilo que está atrás dele, mas que, sem
ele, esse objeto teria recebido apenas pouco calor? Oras, sua fé é o vidro que
faz queimar seu sacrifício, e a meditação o posiciona diante do sol; apenas não
o afaste logo, mas segure-o ali por um pouco de tempo, e sua alma sentirá o
venturoso efeito.
Certamente, se conseguirmos entrar no Santo dos Santos, trazendo de lá a
imagem e o nome de Deus, guardando-os em nosso coração, bem pertinho de nós,
isso possibilitará que façamos maravilhas: toda responsabilidade que
realizarmos será uma maravilha, e aqueles que a presenciarem prontamente dirão:
"Ninguém jamais falou da maneira como esse homem fala" (Jo 7.46). O
Espírito nos dominará, como aquelas línguas de fogo, e far-nos-á falar a todos
sobre as obras maravilhosas do Senhor.
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